Sobre crescer e as dores (metafóricas e literais)

07/08/2023
Animação ilustrada de uma moça sentada em um pilar, usando um vestido florido que deixa suas costas à mostra. De sua coluna, saem plantas, que crescem lentamente.
Fonte: patternbomber

Nunca foi segredo que a crise dos 20 anos estava batendo na minha porta antes mesmo dos 20 anos chegarem. Na verdade, desde que saí do Ensino Médio, eu tenho estado nesse limbo onde não tinha 100% de certeza de nada do que estava fazendo, apenas sabia que queria fazer alguma coisa. Difíceis dilemas para uma cabecinha como a minha.

Algumas coisas funcionaram: em 2021, consegui entrar na faculdade, e, esse ano, virei estagiária de Marketing, mas não antes de ter sofrido um incidente horrível com a chuva, onde, em poucas horas, perdemos o que levamos anos para conseguir. Ainda é um assunto bem delicado para mim, pois as feridas físicas já cicatrizaram, mas as psicológicas ainda estão bem frescas. Dá um orgulho de ter conseguido um trabalho numa área que gosto, e pretendo falar mais disso no futuro, mas é estranho como ficou "atrelado" a algo tão pesado em minha vida.

Desde então, com o semestre caótico na faculdade, início de estágio e a cabeça totalmente fora do lugar, descanso era raro e, geralmente, tomado com muita culpa. Acho que já tá meio clichê nesse blog o quanto que, quando as coisas apertam, as primeiras partes da minha vida a serem jogadas pelo ralo são as de lazer. Meu post de fim de ano de 2021 falava exatamente sobre isso; o de 2022, sobre tentar evitar a exaustão; e cá estou, em 2023, no mesmo dilema. Será que eu cresci de lá para cá?

Olha, certamente, sim: tomei riscos, assumi responsabilidades, sinto dor nas costas quase todo dia... o clássico que caracteriza a vida adulta para muitos. Mas ser arrancada da zona de conforto, perceber o mundo desmoronar e não saber o que fazer foi, com certeza, uma coisa que eu não escrevi em minha lista de desejos da virada do ano e, provavelmente, devo ter lido as cartas do tarot errado naquele 31 de Dezembro de 2022, onde surrupiei o baralho da minha mãe, na esperança de um spoiler do que seria o ano seguinte.

Para quem só queria, pouco a pouco, melhorar de vida e aproveitar os bons momentos, 2023 começou me fazendo muito mal para, depois, ir me curando aos pouquinhos. Bem pouquinhos, mesmo.

De maneira nenhuma eu irei romantizar o que passei em Janeiro. A todos que tiveram situações similares, minhas condolências e meu desejo sincero de que tudo volte ao lugar e que a chuva deixe, lentamente, de ser um terror e uma lembrança ruim. Perdi as contas de quantas vezes, de lá para cá, chorei, quis desaparecer, tive vontade de voltar no tempo e fazer tudo que tivesse ao meu alcance para evitar tudo o que ocorreu e todas as consequências que vieram depois.

Ter começado a estagiar foi uma das melhores coisas que podiam ter acontecido, porque não só estava ocupada demais para remoer o passado, como também tinha uma oportunidade de ajudar minha família a recomeçar. Foi um tanto difícil no começo, afinal, é minha primeira experiência e ainda estava abatida, mas, agora que estou entrando no eixo, tem surgido um tempinho pra pensar em mim e em voltar a ser a Beatriz de antes na medida do possível.

A pior parte de passar por situações onde me vejo lembrando de quem eu era no passado é a ideia de que, mesmo quando tudo voltar ao normal, nunca mais serei a mesma. Ainda que, no futuro, eu me cure dessas feridas e fique em paz, as cicatrizes ainda existirão, e só espero que consiga olhar pra todas as rachaduras e aceitá-las, não querer escondê-las. Ainda assim, eu não quero perder a vontade de fazer coisas bobas, de fazer piadas bestas, nem de usar fones de ouvido rosa com orelha de gatinho na chamada com o CEO da empresa (e, não, ele não ligou. Talvez nem tenha percebido!)

Talvez nem seja crescer e envelhecer que nos faça olhar a vida sem a lente cor-de-rosa, mas, sim, as experiências que temos com a idade. Muitos de nós passamos boa parte da infância querendo ser adultos, a adolescência repudiando a nossa criança interior e, quando mais velhos, percebemos que fomos apenas tolos. É normal que algumas coisas percam a graça, e é normal saber que, para algumas delas, existe hora e lugar, mas não é normal rejeitar tudo o que nos faz bem por causa das outras pessoas.

Leia seus romances clichês, abrace seus bichinhos de pelúcia, chore, prefira o filme da Barbie ao Oppenheimer, jogue aquele jogo que todo mundo disse que é ruim, mas você amou, assista o que gosta... a cada ano que passa, eu percebo mais e mais o quanto ter sido condicionada a dar prazo de validade para as coisas me faz hesitar antes de fazê-las até hoje. E, claro, a única prejudicada sou eu. Somos nós, quem damos ouvidos a essas pessoas.


Agora que acho que falei tudo o que estava engasgado no peito... olá, leitor! Não me mate pelo hiatus imenso! Tentei fazer esse post antes, mas pense em uma pessoa que vive de imprevistos: sou eu.

Muita coisa que pincelei nesse texto provavelmente vai ter seu post dedicado no futuro. Tenho uma relação de amor e ódio com pensar, pois surgem ideias, tento escrevê-las, percebo que não são tão concretas assim e que preciso pensar mais... e fico nesse ciclo sem fim.

Fiquem bem, se cuidem, sejam felizes e aproveitem a vida! 💕

3 comentários:

  1. Oiii, Bia! ✨

    O clima está se tornando algo imprevisível em várias partes do mundo e acredito que todos estão ficando traumatizados de alguma forma. Espero que você e sua família consiga se reerguer e conquistar coisas ainda melhores! Quanto aos traumas, é só ter paciência que lentamente eles vão sendo esquecidos.

    Viver é isso, com o decorrer do tempo vamos adquirindo novas experiências, novos aprendizados e consequentemente, vamos mudando nossa forma de enxergar o mundo, o que torna impossível voltarmos a ser a mesma pessoa de antes e isso não é algo ruim, significa que estamos evoluindo!

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    1. Oiê!
      Está uma doideira, mesmo! Sinceramente, espero que seja apenas uma fase e que as pessoas se tornem mais responsáveis, pois, por mais que muitos digam que não, o aquecimento global é um dos fatores dessa loucura.
      Obrigada, também espero que a gente consiga se reestruturar por completo logo. As experiências da vida às vezes são pesadas, mas também vêm coisas boas. Acho que focarei em apenas manter a minha essência e o meu jeito de lidar com algumas coisas, mesmo que o jeito de ver o mundo mude.
      Obrigada pelo comentário e por torcer pela gente 🥺💕 e perdoe a lentidão da pessoa aqui em responder 😭 a idade tá batendo e a caixa de email tá lotada!

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  2. Oh, Beatriz, eu sinto muito, de verdade... 😥😓 Poxa vida, que tristeza. Espero que, de lá pra cá, as coisas tenham melhorado pra ti e sua família. A vida pode ser incompreensivelmente cruel, às vezes. Tenho dificuldades em processar isso.

    Me identifiquei muito com a sensação de desamparo, esse texto me acolheu, nesse sentido. Eu também me sinto mais bamba do que firme desde que me entendo por gente², e até pouco tempo eu costumava dizer que me senti fazendo 18 anos por três anos. Hoje, com 22, me sinto com uns vinte, não tão lá, mas quase lá, eu acho, espero. O que predomina no meu peito é o desespero; como se eu estivesse numa piscina, com a borda longe, e a água estivesse na altura da boca. Eu ainda estou respirando, mas se escorregar, me afogo. Está frio. Eu quero sair, mas a saída está longe. Eu estou cansada.

    Desejo, pra nós duas, um futuro bom. Nós merecemos.

    Eu amei o seu texto, obrigada por publicá-lo! 🤗

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