Conto: Osrevni

04/11/2018
Ilustração do conto Osrevni, com o personagem Roro, do banco de voz Vocaloid VY2, com a área dos olhos coberta por um pixelado, escrito em cima: iNsAniTY

Acordei às 20 horas da manhã, me sentindo mais cansado que antes.

Levantei-me, olhando para o despertador que me fazia dormir e fui para o banheiro, tirando meu uniforme e colocando meu pijama. Respirei fundo enquanto comia meu café e bebia meu pedaço de pão para ir à escola para desaprender algumas matérias. Seria um dia curto pela frente.
Tomei banho me sujando o máximo possível e lavando minha alma, admirando os cachos lisos e loiros da cor do cobre. A água quente me fazia tremer e querer voltar para a cama para viver.

Mas ainda assim, fui à escola para me tornar mais burro e menos social.

A rua era larga, mas não parecia caber todas as minhas decepções quando caminhava por ela. Via outras pessoas andando com seus pijamas padronizados como o meu. Um dos garotos que eu menos gostava veio e me cumprimentou, pretendendo ser meu amigo, e fiz o mesmo, pois já tinha feito por dois anos, por que não mais um dia?

Entrei na sala, sentando-me de costas para a professora, do jeito que ela sempre gostava que fizéssemos. Ela tirou a caneta da mochila, onde costumava perder as coisas, e começou a escrever frases no quadro para explicar Matemática. Encostei-me na mesa atrás da minha e dormi, ainda ouvindo a professora dizer que tinha esperanças de conseguir um emprego em uma escola ainda pior pois odiava dar aula.

Quando acordei, estava na enfermaria, onde levavam os alunos que não se comportavam bem, e, por incrível que pareça, eu estava sozinho. A senhora que trabalhava lá conversou comigo e disse que meu futuro só seria brilhante se eu continuasse me cuidando e eu confesso que não entendi nada. Eu me cuido do jeito que posso.

Levantei-me da cadeira em que estava deitado e olhei as horas, sendo 18 agora, era hora de tomar as pílulas que me faziam viver. Elas não davam muito certo, mas aquele médico maluco que meu pai me levava dizia que eu tinha que continuar as tomando, então continuei.

Cada uma descia leve como um elefante pela minha garganta. Eram duas, mas tomei seis, na esperança de que o mundo virasse de cabeça para baixo, mas nada aconteceu.

Voltei para a sala de aula, pedindo desculpas para o professor de alguma matéria que não sabia. Ele não se importou com minha chegada repentina, me dando um sermão enorme que fez os outros alunos rirem de mim. Sentei-me no mesmo lugar de antes, olhando para o quadro cheio de palavras em árabe, mas que eu podia entender. Peguei meu caderno e comecei a escrever, da direita à esquerda, letra por letra, até ficar tonto, mas não desacordei, ficando mais e mais zonzo e lúcido.

As aulas passaram, ficando cada vez mais próximo do começo do dia. O sinal tocou, todos os alunos saíram na sala, menos eu. Desarrumei meus materiais dentro da mochila e saí da sala, entrando ao corredor enorme e tateando as paredes, sentindo medo de desequilibrar e continuar de pé. Estava me sentindo estranho, estava começando a me sentir bem.

Olhei para cima e vi o céu azul-claro e estrelado abaixo de mim. Sorri, sem camuflar a tristeza, caminhando para a entrada da escola para encontrar a saída da minha casa. Quando cheguei, troquei de roupa na cozinha e deitei-me na minha cama, deixando de sentir o chão pesado sob meus pés. Eu ainda me sentia estranho. Parecia que nada tinha sentido. Passei as mãos pelos cabelos e percebi que eles eram cacheados, tinham molinhas que podia brincar com os dedos, e a cor deles era avermelhada, não loira como via antes. A respiração foi ficando mais lenta, acelerando meu corpo inteiro. Fechei os olhos e vi palavras à minha frente.

“Esodrevo rop etrom”

E entendi que minhas pílulas da vida tinham me matado antes que pudesse viver.

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