Resenha: Suzume, um filme sobre laços e cura

22/11/2025
Colagem de diversas cenas do filme Suzume, evidenciando os protagonistas Suzume e Souta.

Vocês sabem muito bem: onde tem fantasia, história boa e personagens masculinos bonitos que viram cadeirinha, eu certamente estou. Bônus pelos gatinhos. Suzume, ou Suzume no Tojimari (すずめの戸締まり) me ganhou nos trailers e valeu cada segundo.

O filme conta a história da adolescente Suzume, que, desde o falecimento de sua mãe, mora com sua tia. Saindo para a escola, ela encontra um desconhecido, que a pergunta por um local abandonado. Sem pensar muito, ela explica como chegar às ruínas de perto de sua casa e segue seu trajeto... não por muito tempo, já que decide voltar correndo, intrigada pelo encontro de antes.

Ao chegar lá, havia uma porta no meio do nada, e, curiosa, Suzume decide abrí-la e vê uma paisagem linda, mas que não consegue alcançar. Após remover um totem do chão e vê-lo se tornar um gatinho, a moça se assusta (com razão) e decide, então, ir para a escola, sem saber que havia cometido um erro gigante.

Das ruínas onde Suzume encontrou a porta, uma fumaça muito escura e espessa está saindo, mas só ela consegue ver. Sem se preocupar com as aulas, ela corre de volta ao lugar, e encontra o homem de antes tentando fechar a porta, mas com muita dificuldade por causa da força do vento e fumaça saindo por ela.

Sentindo-se um tanto responsável, ela decide ajudá-lo, descobrindo, então, que ele tem o dever de fechar as portas para evitar que incidentes como aquele aconteçam e causem terremotos. Em situações inesperadas, porém, o rapaz, chamado Souta, acaba tendo sua alma presa à cadeirinha de criança que Suzume possui em seu quarto.

Incapaz de fechar as demais portas que começam a se abrir e causar desastres naturais, Souta depende de Suzume para levá-lo em seu novo corpo para os lugares e ajudá-lo a proteger a Japão dos Vermes, seres sobrenaturais que escapam e são capazes de causar terremotos intensos.

Os personagens

Eu adorei que, em Suzume, não desgosto de nenhum personagem. Minha atenção foi imediatamente para o Souta, porque sou totalmente fã de homens misteriosos de cabelo longo e voz bonita, mas a Suzume foi uma excelente protagonista, com uma história de fundo bem desenvolvida.

Suzume me surpreendeu positivamente. Desde que passei dos vinte, não tenho conseguido me identificar muito com personagens muito jovens, mas ela não está lá para ser relatable, e, sim, uma protagonista sólida. Ela é uma pessoa normal, tem seus dilemas familiares, amizades, sonhos, valores e história, sendo uma moça valente, ainda que ingênua, que comete erros, mas tenta acertar.

Embora a história gire em torno de seu dever como responsável por fechar as portas, o destaque não é 100% de Souta. É como se ele guiasse Suzume pela jornada dela, sendo mais um facilitador que um protagonista. Mesmo fisicamente incapaz de fazer muito, ele ainda dá seu melhor para ajudar quem precisa, deixando a si mesmo de lado. Certamente nota máxima aqui.

Também tenho que falar da Tamaki, tia e figura materna de Suzume, que é importantíssima na trama. Durante o filme, ela é tia, mãe, trabalhadora e apenas uma mulher comum, tudo ao mesmo tempo. Fiquei feliz de vê-la como além de uma figura parental, e queria mais momentos com ela interagindo com Suzume e até mesmo com Souta.

Agora, para os personagens secundários, queria falar da Chika, a menina das frutas, e da Rumi, que é mãe de duas crianças e trabalha em um bar, e, por último, mas não menos importante, de Serizawa, amigo de Souta. Concordo com as resenhas que dizem que esse filme fala muito sobre laços e a comunidade, pois são pessoas que apoiam a jornada de Suzume sem hesitar.

E, por último mas nunca menos importante, Daijin! Nosso gatinho totem que causa várias pelo filme não é o que parece. Falar sobre ele é quase um campo minado de spoilers, mas te garanto que é quase impossível não gostar dele. Ainda assim, queria ter entendido mais sobre ele e sobre Saidaijin, também.

A simbologia

Suzume é um filme onde você precisa prestar muita atenção para conseguir captar todos os detalhes. Como faz referência a um desastre real que aconteceu em Tohoku, no Japão, em 2011, é um tanto fácil para quem está fora do país e não tem conhecimento perder as nuances. Algumas escolhas só fizeram 100% de sentido após ler mais sobre o filme.

Existe todo um respeito às memórias das pessoas que moraram nesses locais que, hoje, são inabitados e abandonados, e um reconhecimento das coisas que já não são mais como eram antes. Eu gostei muito desse detalhe: acredito que os lugares têm suas histórias, e, como estamos falando de momentos traumáticos, lembrar dos dias mundanos em vez dos dias dolorosos é uma escolha incrível por parte do autor.

Esse tema se mistura levemente com a ideia do sacrifício por um bem maior, de se colocar no lugar dos outros e de cura interior, ficando em paz com o passado. Para além de salvar o mundo, Suzume, que era até então apenas uma garota normal, salva a si mesma, e isso foi incrível de assistir.

Para além disso, gostei muito do tema familiar e de amizade. A relação da Suzume com a tia, Tamaki, mesmo sem tanto enfoque, trouxe uma perspectiva muito legal ao filme. Figuras parentais geralmente não têm esse destaque, e gostei de entender suas dificuldades enquanto criava a sobrinha como se fosse sua filha.

Outra coisa que eu não notei ativamente quando assisti, mas que prestei atenção depois para escrever o texto, foi o fato de muitas das personagens presentes no filme serem mulheres. Ver uma adolescente receber apoio e crescer com outras pessoas do mesmo gênero é muito positivo, principalmente porque elas eram bem diversas, com profissões e idades distintas.

Enfim, são muitas coisas, mas nada disso sobrecarrega quem está assistindo. Tudo aparece com naturalidade, e certas coisas te tocam mais que outras dependendo da sua vivência pessoal.

A polêmica do romance

Essa seção tem spoilers! Pule para a próxima parte para evitar.

Cena do filme na qual Suzume encontra Souta pela primeira vez. Ela está indo para a escola em sua bicicleta e cruza o caminho de Souta, que procura pelas ruínas.
Fonte: neonfeel no Tumblr

Embora Suzume não seja focado na relação dos dois protagonistas, é muito claro que a história incentiva a gente a fazer casalzinho na nossa mente. Isso levantou algumas problemáticas entre algumas das pessoas, pois Suzume ainda é uma adolescente, com 17 anos, e, Souta, com 21 anos no mínimo.

Eu tenho 23 anos no dia que escrevo essa postagem, e confesso: não teria interesse nenhum em alguém com menos de 18 anos. Mas eu também sei diferenciar ficção da fantasia, e que o final é aberto no que diz respeito à relação deles. Não há nenhum contato físico indevido e em nenhum momento eu me senti desconfortável assistindo.

Embora eu tenha amado os dois juntos, eu vi mais uma amizade e relação de mentor e mentorada. Sentimentos românticos parecem completamente não correspondidos por Souta, e tá tudo bem! Não significa que eu me oponho a um timeskip onde eles já se encontram adultos e, quem sabe, acontece algo.

Também tem a questão de que o diretor queria que fosse uma história sáfica, ou seja, com duas garotas em vez de ser o clássico casal heterossexual, mas que não conseguiu convencer. Tem quem tenha desgostado do filme simplesmente por causa desse fato, e admito que essa fórmula já está um tanto saturada, mas eu espero que as pessoas não deixem de dar uma chance só por causa disso.

Conclusão

Bom, acho que não precisa ser adivinho para perceber que eu amei o filme. Eu adoro fantasia desde muito novinha, e fantasia com mulheres me deixa nas nuvens. Embora ele não tenha sido feito com a intenção de ser voltado ao público feminino, como mulher, me senti muito confortável e acolhida assistindo.

A mitologia, os personagens, a história, o simbolismo da cadeirinha, a relação com o luto, é um conjunto em uma trama muito boa. O filme não grita na sua cara “estou falando de luto!” ou “isso significa aquilo!”, mas, com um pouco de sensibilidade, você consegue captar os sinais.

Foi meu primeiro filme do Makoto Shinkai, e fiquei curiosa para assistir os outros longas dele. Suzume foi um daqueles filmes que procrastinei para assistir por muito tempo, e que me arrependo de não ter assistido antes! Muita gente comentou sobre referências aos filmes do Studio Ghibli, e, agora, sinto que tenho mais alguns para a lista (ainda tenho que assistir O Castelo Animado, acreditam?)

Esse texto ficou enorme, e sinto que ainda tinha coisas que eu poderia cobrir, como a qualidade da animação, que é suprema, e a música, também. Eu assisti dublado, e foi uma delícia ouvir Fábio Lucindo, também dublador de Shinji, de Evangelion, interpretando o Souta. Foi um conjunto de coisas que me deixou 100% viciada e procurando qualquer informação extra sobre a história por dias.

Espero que deem uma chance para essa história! 🤍

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